Ajuda humanitária ameniza situação de emergência em Boca do Acre

A situação de emergência decretada ao município de Boca do Acre (a 1.028 quilômetros de Manaus), em função da cheia que atinge a região desde o dia 14 de fevereiro, já é considerada sob controle. As informações são do chefe do Subcomando de Ações da Defesa Civil do Estado (Subcomandec), órgão do Governo do Amazonas, coronel Roberto Rocha, que esteve no município com três equipes durante todo este fim de semana atuando na distribuição de mantimentos e no auxilio à remoção de famílias atingidas pela cheia.

 

“A abordagem do Governo do Estado, através do Subcomandec, aqui em Boca do Acre foi muito rápida. Além de apoiar na remoção de pessoas para abrigos que nós mesmos montamos, o Estado está distribuindo colchões, cestas básicas e filtro de água microbiológico”, disse, ao acrescentar que a subida dos rios Acre e Purus, que banham o município, está estável.

 

“Já temos informações do Sipam (Sistema de Proteção da Amazônia) e CPRM (Serviço Geológico do Brasil) que tanto as chuvas quanto a subida dos rios já estabilizaram, ou seja, a enchente, ao que tudo indica, já atingiu o ápice.”, enfatizou Rocha.

 

Prejuízos – Conforme o último levantamento do órgão, que montou um grupo de trabalho com mais de 200 pessoas, entre voluntários e representantes da Marinha, Prefeitura do Município, Polícia Militar e Aeronáutica, desde meados do dia 14 de fevereiro, a cheia atingiu 2.328 residências, das quais mais de cem famílias tiveram perda total do imóvel. Até o último domingo, a cheia tomou 80% do município, cuja população é de aproximadamente 37 mil habitantes (Censo 2010).

 

A dona de casa Damian Brito, 38, perdeu a casa com quase todos os móveis. Ela chegou a ir para a residência de um irmão dela, que também foi atingida pela subida das águas. “Se não fosse o abrigo hoje eu estaria na rua com toda minha família, sem teto e passando fome. Minha família vive da plantação de banana que também foi afetada pela cheia”, lamentou.

 

Para a dona de um restaurante, Raimunda Camuça, 56, essa foi a segunda maior cheia que ela presencia em Boca do Acre. A última vez que vi meu bairro em baixo d’água foi em 1997, quando mais de 90% da cidade ficou submersa. Ela comentou que a situação está difícil desde o fechamento de seu restaurante. “Já faz duas semanas que estamos bebendo e comendo com ajuda humanitária da defesa civil, porque minha única fonte de renda, o restaurante, está submerso”, disse.

 

Além de comprometer a fonte de renda de muitos, a cheia racionou o fornecimento de água e energia elétrica. A comerciante Marinete Ribeiro, 38, disse que o apoio da Defesa Civil do Estado tem ajudado a superar dificuldades. “Todo mundo aqui está passando por um teste rigoroso de sobrevivência. A sorte é que recebemos um filtro de água da defesa civil, no qual colocamos água da chuva para filtrar e beber”, relatou.      

 

A cheia – A subida no nível do rio Purus é resultado da cheia do Rio Acre (AC). O rio acreano chegou ao nível de 20,10 metros, acima da cota de transbordamento. O Estado registra a segunda pior enchente dos últimos 15 anos. O rio Acre tem sua nascente no Peru, passa pela Bolívia e corta oito municípios no território acreano. Sete municípios da Calha do Juruá também já decretaram situação de emergência por conta da enchente do rio da região. Guajará, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá contabilizam mais de 26 mil pessoas afetadas pela cheia do rio Juruá.

 

Recursos do Estado – O Governo do Amazonas, anunciou no último dia 23 de fevereiro, a liberação de R$ 700 mil para atender os sete municípios da calha do Rio Juruá que estão em situação de emergência por causa da cheia. O anúncio foi feito pelo governador em exercício, José Melo, durante reunião com os prefeitos de Itamarati, João Campelo; Carauari, Francisco Costa; e Guajará, Hélio de Paula, além de representantes de outros municípios da calha.

A medida vai contemplar as cidades de Itamarati, Carauari, Guajará, Eirunepé, Envira, Ipixuna e Juruá, onde a cota do rio já chegou ao nível emergencial. Os recursos são destinados à aquisição de estoque de mais de 40 tipos de medicamentos da atenção básica para distribuição gratuita e compra de combustível para utilização nas ações de remoção das famílias das áreas atingidas pela cheia.